Cheguei de Lisboa com a minha nova pera, fruto de horas de estudo e subversão e fui exibi-la para o Avenida com assinalável êxito.
À saída, o Zé Mineiro, pai do ZéQuim, não se calava em elogios.
-É pá, Luís Manuel! Isso é que é uma pera! E tem mosca e tudo... vê-se logo que és um grande estudante.
Ao nosso lado, o ZéQuim, cerca de meio metro mais para cima de qualquer de nós, acompanhava-nos naquele passo que nos dirigia para nossas casas e olhava a biqueira dos sapatos para estar mais atento à conversa.
Lá chegámos à Rua Santa Teresinha, eles subiram as escadinhas que davam acesso à sua casa, eu dirigi-me para a minha.
Mas, aí, a recepção já não foi tão calorosa.
- Vais imediatamente cortar essa porcaria. Isso não são coisa para nós, humildes...
Eu bem procurei argumentar que os tempos estavam a mudar, que todos tinhamos direito a usar o que quiséssemos. A autoridade paternal não se deixou convencer: aquilo não era para nós. E, de repente, recordei aquela mão enorme que uns quinze anos antes vira descer na minha direcção e preferi mudar de estratégia.
Daí a dias voltaria a Lisboa, com uma semana de mau aspecto e quinze dias de comichões conseguiria a reconstrução.
E a pera caiu...
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