
Para se deslocar, possuía um pequeno automóvel comprado em segunda ou terceira mão o qual foi actor de algumas histórias incríveis que nem eu já sei contar.
Mas lembro-me que um dia, estacionado junto à casa do Largo de Castela, o carro não pegou por mais tentativas que ele fizesse. E foi para a oficina a pé…
Pronto para ir para as aulas, saí de casa e deparei-me com o carro. E a brilhante ideia surgiu…
E se eu fosse para o Fernão Lopes de automóvel?
Era só subir a rua de Castela, entrar na estrada que nos leva ao Vale Travesso. Depois passaria em frente ao Colégio lentamente, apitaria, acenaria para o jardim onde estavam as miúdas… sim, onde ela estaria de certeza e seria o oureense mais famoso do dia. Mais para cima, faria inversão de marcha e, depois, era só estacionar… e talvez ela quisesse dar uma volta comigo.
Ansioso entrei no carro e tentei ligá-lo. Acelerei, acelerei, carreguei no botão de arranque e nada…
Não sei se se lembram, mas antigamente também se podia ligar um carro com uma manivela. Peguei na dita e enfiei-a num buraco na parte da frente do carro. Girei com ela, ouviu-se um pequeno ruído, mas nada de o carro pegar.
Nessa altura, passaram o Duarte e o Ferraz.
- Dá à manivela, Luís. Dá à manivela…
Malvados. Sempre a gozar comigo. Hão de ver o que é fazer pegar um carro.
Sou daquele género que «finge que desiste, mas depois volta à carga», pelo que idealizei engatar uma mudança e dar à manivela.
Pensado e feito. Ouviu-se enorme ruído e o carro deu um salto em frente.
«Estou quase a conseguir» - pensei - «O importante é saltar para dentro do carro quando ele vai em frente e aproveitar-lhe o movimento».
Fiz várias tentativas e a verdade é que consegui deslocar o carro para o meio da estrada à entrada da rua de Castela. Ao fim de algum tempo, comecei a ver formar-se uma fila enorme de carros proveniente da parte de cima da rua. A bicha chegou ao Colégio.
- Sai daí, malandro!
Toda a gente estava furibunda comigo e eu já me via de novo nas mãos do polícia Cunha a ser sujeito a mais um interrogatório.
Felizmente, alguns saíram dos carros e ajudaram-me a repô-lo no estacionamento.
Triste, acabrunhado, retirei a manivela e recoloquei-a no seu lugar. Peguei nos livros e fui a pé até ao Fernão Lopes. Divisei-a ao longe no jardim das meninas, indiferente à minha situação, eu que tanto tinha querido levá-la a passear de automóvel…
E não imaginam o ralhete que ouvi à chegada a casa. Nem sei como as orelhas resistiram a tanto torcegão…
Sem comentários:
Enviar um comentário