Na década de cinquenta, o meu pai era um dos sócios da Vieira, Graça e Prino, nome de três poderosos capitalistas tesos de Ourém que exploravam uma oficina automóvel que tinha por missão fazer arranjos sem conseguir receber as contas de clientes. Apesar disso, chegava para comer e pagar o Fernão Lopes.
Para se deslocar, possuía um pequeno automóvel comprado em segunda ou terceira mão o qual foi actor de algumas histórias incríveis que nem eu já sei contar.
Mas lembro-me que um dia, estacionado junto à casa do Largo de Castela, o carro não pegou por mais tentativas que ele fizesse. E foi para a oficina a pé…
Pronto para ir para as aulas, saí de casa e deparei-me com o carro. E a brilhante ideia surgiu…
E se eu fosse para o Fernão Lopes de automóvel?
Era só subir a rua de Castela, entrar na estrada que nos leva ao Vale Travesso. Depois passaria em frente ao Colégio lentamente, apitaria, acenaria para o jardim onde estavam as miúdas… sim, onde ela estaria de certeza e seria o oureense mais famoso do dia. Mais para cima, faria inversão de marcha e, depois, era só estacionar… e talvez ela quisesse dar uma volta comigo.
Ansioso entrei no carro e tentei ligá-lo. Acelerei, acelerei, carreguei no botão de arranque e nada…
Não sei se se lembram, mas antigamente também se podia ligar um carro com uma manivela. Peguei na dita e enfiei-a num buraco na parte da frente do carro. Girei com ela, ouviu-se um pequeno ruído, mas nada de o carro pegar.
Nessa altura, passaram o Duarte e o Ferraz.
- Dá à manivela, Luís. Dá à manivela…
Malvados. Sempre a gozar comigo. Hão de ver o que é fazer pegar um carro.
Sou daquele género que «finge que desiste, mas depois volta à carga», pelo que idealizei engatar uma mudança e dar à manivela.
Pensado e feito. Ouviu-se enorme ruído e o carro deu um salto em frente.
«Estou quase a conseguir» - pensei - «O importante é saltar para dentro do carro quando ele vai em frente e aproveitar-lhe o movimento».
Fiz várias tentativas e a verdade é que consegui deslocar o carro para o meio da estrada à entrada da rua de Castela. Ao fim de algum tempo, comecei a ver formar-se uma fila enorme de carros proveniente da parte de cima da rua. A bicha chegou ao Colégio.
- Sai daí, malandro!
Toda a gente estava furibunda comigo e eu já me via de novo nas mãos do polícia Cunha a ser sujeito a mais um interrogatório.
Felizmente, alguns saíram dos carros e ajudaram-me a repô-lo no estacionamento.
Triste, acabrunhado, retirei a manivela e recoloquei-a no seu lugar. Peguei nos livros e fui a pé até ao Fernão Lopes. Divisei-a ao longe no jardim das meninas, indiferente à minha situação, eu que tanto tinha querido levá-la a passear de automóvel…
E não imaginam o ralhete que ouvi à chegada a casa. Nem sei como as orelhas resistiram a tanto torcegão…
Para se deslocar, possuía um pequeno automóvel comprado em segunda ou terceira mão o qual foi actor de algumas histórias incríveis que nem eu já sei contar.
Mas lembro-me que um dia, estacionado junto à casa do Largo de Castela, o carro não pegou por mais tentativas que ele fizesse. E foi para a oficina a pé…
Pronto para ir para as aulas, saí de casa e deparei-me com o carro. E a brilhante ideia surgiu…
E se eu fosse para o Fernão Lopes de automóvel?
Era só subir a rua de Castela, entrar na estrada que nos leva ao Vale Travesso. Depois passaria em frente ao Colégio lentamente, apitaria, acenaria para o jardim onde estavam as miúdas… sim, onde ela estaria de certeza e seria o oureense mais famoso do dia. Mais para cima, faria inversão de marcha e, depois, era só estacionar… e talvez ela quisesse dar uma volta comigo.
Ansioso entrei no carro e tentei ligá-lo. Acelerei, acelerei, carreguei no botão de arranque e nada…
Não sei se se lembram, mas antigamente também se podia ligar um carro com uma manivela. Peguei na dita e enfiei-a num buraco na parte da frente do carro. Girei com ela, ouviu-se um pequeno ruído, mas nada de o carro pegar.
Nessa altura, passaram o Duarte e o Ferraz.
- Dá à manivela, Luís. Dá à manivela…
Malvados. Sempre a gozar comigo. Hão de ver o que é fazer pegar um carro.
Sou daquele género que «finge que desiste, mas depois volta à carga», pelo que idealizei engatar uma mudança e dar à manivela.
Pensado e feito. Ouviu-se enorme ruído e o carro deu um salto em frente.
«Estou quase a conseguir» - pensei - «O importante é saltar para dentro do carro quando ele vai em frente e aproveitar-lhe o movimento».
Fiz várias tentativas e a verdade é que consegui deslocar o carro para o meio da estrada à entrada da rua de Castela. Ao fim de algum tempo, comecei a ver formar-se uma fila enorme de carros proveniente da parte de cima da rua. A bicha chegou ao Colégio.
- Sai daí, malandro!
Toda a gente estava furibunda comigo e eu já me via de novo nas mãos do polícia Cunha a ser sujeito a mais um interrogatório.
Felizmente, alguns saíram dos carros e ajudaram-me a repô-lo no estacionamento.
Triste, acabrunhado, retirei a manivela e recoloquei-a no seu lugar. Peguei nos livros e fui a pé até ao Fernão Lopes. Divisei-a ao longe no jardim das meninas, indiferente à minha situação, eu que tanto tinha querido levá-la a passear de automóvel…
E não imaginam o ralhete que ouvi à chegada a casa. Nem sei como as orelhas resistiram a tanto torcegão…
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