domingo, outubro 06, 2019

A fuga do cabecilha do assalto aos melões

É quarta-feira em Vila Nova de Ourém na década de sessenta do século passado. O Verão está bem maduro. Sabedores que, no dia seguinte, se realiza o famoso mercado da terra, muitos comerciantes estacionam as suas camionetas e outros meios de transporte junto ao adro da Igreja. Lá dentro, guardam os fabulosos produtos com que no dia seguinte obsequiarão os oureenses.
Todos os adoram, todos os respeitam…
Todos?
Não, há um oureense que não quer que os seus conterrâneos tenham o prazer de ver aqueles produtos no mercado. E idealiza o crime perfeito…
- Esta noite – diz a famigerada criatura aos capangas – quando soarem as 24 badaladas do sino da Igreja, pegamos em alguns cestos e, sem ninguém nos ver, vamos sacar os melões aos comerciantes.
E assim fizeram.
Só que não sabiam que estavam a ser vistos. E o seu comportamento não foi muito profissional. É que, em vez de comerem os melões, jogaram à bola com eles no adro da Igreja.
Cansados, saciaram-se e atiraram as cascas para o meio da rua. Sempre sob o olhar vigilante do narrador que os reconheceu a todos menos um, exatamente, o famigerado chefe. Quem seria a tenebrosa criatura?
O narrador sacou de uma máquina fotográfica e disparou. O inesperado clarão assustou os meliantes:
- Um relâmpago… vem aí uma tempestade.
- Já oiço os trovões. Fujamos…
E aquele grupo de malcomportados fugiu a sete pés, deixando os cestos e os despojos do seu crime espalhados pela rua. Eram tantos que nem o sr. Godinho conseguiu abrir a horas.
Entretanto, o narrador dirigiu-se aos seus estúdios privativos e revelou a fotografia, a qual, dados os condicionalismos noturnos não ficou muito clara… mas permite esclarecer umas dúvidas… 
Sim, meus amigos, aquela figura amacacada é bem conhecida no nosso tempo, na nossa Ourém...
No dia seguinte, no Avenida e no Central não se falava noutra coisa: um estranho surto de diarreia afetava alguns jovens oureenses. Tinha sido provocada por uma overdose… de melão.
Nenhum dos criminosos pagou pelo seu crime, o narrador também não os denunciou, nunca mostrou a fotografia a ninguém até hoje, mas sabe-se que um deles, envergonhado, fugiu da terra e refugiou-se em Madrid. Para compensar as saudades do Atlético oureense, tornou-se sócio do homónimo da cidade.
Hoje, a foto do bicho vê a luz do dia pela primeira vez. Reconhecem-no apesar do disfarce? Olhem aqueles joelhinhos em perfeita simetria...
Não voltes a Ourém, malvado colchonero! Tens uma dívida a pagar ao homem do melão…

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