Na tarde do dia seguinte, à hora marcada, a Cietezinha estava no salão da banda. Viu sair um trio mais ou menos entusiasmado e que, na entrada, estavam o Estorietas e a Deolinda, uma rapariga loira, escultural que vivia em Caxarias. Pouco depois, este estranho grupo era mandado entrar.
O salão da banda estava dividido em vários módulos: à esquerda encontrava-se uma construção em cartão que fazia lembrar um curral de porcos; atrás do mesmo lado, uma espécie de gruta bastante iluminada no interior; mais para a direita e atrás deles, um quarto mobilado também com uma parede de cartão a separá-lo do restante; à frente, à direita uma mesa de refeições com pesadas cadeiras e servida por uma cristaleira bem preenchida.
- Nós estivemos a analisar o vosso perfil e pensamos que poderão participar na nossa fotonovela. Agora precisamos de os ver em ação. A menina Ciete poderá ter um excelente papel como serviçal, a Deolinda pode ser a rapariga meio selvagem que persegue o herói e, claro, este poderá ser o nosso amigo Estorietas. Temos connosco o nosso fotógrafo exclusivo que vos vai acompanhar em algumas ações de treino. Menina Ciete, pegue nesse balde de água que já tem detergente e na esfregona e vá limpar o curral dos porcos.
A Cietezinha engoliu em seco. Nunca esperaria um papel daqueles, mas, uma vez que estava empenhada em conquistar o lugar, obedeceu e iniciou o cumprimento da missão que lhe cabia. Enquanto o fazia, sentia o fotógrafo a seguir todos os seus movimentos e a fazer fotografias. Devia ser um artista tal a rapidez com que cumpria a sua missão.
«Que horror! – pensava ela. – Quando os meus amigos e amigas me virem na Crónica. Eu, uma miúda tão giraça, a limpar um curral de porcos…».
Viu que o curral nem estava muito sujo. Lá dentro, protegido por uma plataforma de papel, estava um porquito que olhava para ela cheio de medo.
«Coitadinho! É tão bonito! Só me apetece dar-lhe beijinhos».
E que cena comovedora se deu então. A Ciete pegou no porquinho ao colo e este encostou a carinha à dela, parecendo dar-lhe um beijinho. O fotógrafo tudo registou.
Ela em breve se arrependeu do acto. Mas, ainda não tinha posto o porquito no chão, já se ouviam os aplausos dos jurados.
- Bravo! Bravo! Que cena comovedora! Nunca nada de tão belo se passou nas nossas fotonovelas. Está contratada…
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