Blogs d’Ourém
Comecemos, naturalmente, com uma recordação. Uma das primeiras vezes que terei ouvido essa magnífica música denominada Pedra Filosofal, interpretada pelo Manuel Freire, terá sido há uns trinta e cinco anos no programa Zip-Zip. Na altura, dezenas de jovens procuravam esse programa para, acompanhados por uma viola, apresentarem as suas canções ou versões de canções conhecidas. Lembro-me que, para além do Manuel, também lá esteve aquele magnífico vocalista dos Corsários de Apolo, de Leiria, o João Antunes, que teve a infelicidade de desaparecer na guerra colonial. O movimento foi tão forte que os seus participantes eram por vezes desdenhosamente referidos como baladeiros independentemente da sua qualidade e sem que eu atribua, neste momento, qualquer conotação pejorativa a este termo. Mas o que interessa aqui é que havia uma pergunta sacramental que a equipa Solnado-Cruz-Fialho-Martins deixava: "porque é que fazes isto?" E a resposta, apesar de clara, também nada tinha de inovador: "para comunicar...".
A verdade, meus amigos, é que os objectivos deste blog não ultrapassam essa simplicidade terminológica. Ourém é, como já escrevi, uma ferida aberta por uma separação inesperada que terá deixado coisas por dizer e por fazer. Ourém é, também, inquietação e desassossego: a cada momento que passa eu penso o que é que eles andarão hoje a destruir? E é esta associação entre o que em determinado momento teria feito para me reaproximar de Ourém e o desespero perante a prática fria de quem constroi destruindo o passado que justifica a minha atitude. Que fique bem claro: eu não sou contra o desenvolvimento de Ourém. Bem pelo contrário, pretendo que esse desenvolvimento seja forte e rápido e tenha um forte apoio em todas as camadas sociais e etárias.
Encontrei na tecnologia e nas facilidades associadas aos blogs um dos meios para me possibilitar a acção. Com efeito, optando por elas, não fico dependente das opiniões de um editor, não tenho que me dirigir a um jornal pedindo uma publicação e sujeitando-me a alguns entraves. Tenho liberdade de publicação. Não é que isso não aconteça com a imprensa de Ourém: entre 1972 e 1975 escrevi o que quis em qualquer dos jornais. Mas é diferente, não há datas, não há limitações para além daquelas que a minha consciência e o meu civismo me ditarem. Posso escrever um texto grande ou pequeno, posso criar e formatar o meu jornal como muito bem me apetecer. Há, no entanto, alguns riscos: o jornal tradicional tem logo um conjunto de dois ou três mil leitores a quem chega, este humilde blog ao princípio só é lido por quem o cria e é relativamente demorado até ser captado pelos diversos motores de pesquisa. Mas nem este aspecto me preocupou muito: é muito mais importante para mim dizer o que digo e deixá-lo registado do que ter acesso imediatamente a outras pessoas através de uma forma tradicional. É que o jornal desaparece e, naturalmente, esquece, o conteúdo do blog não: o que escrevi há um ano está aqui imediatamente e sempre disponível.
Há uns anos, quando tomei contacto com as potencialidades da Internet, logo pensei em criar uma página sobre Ourém. Custava-me a engolir que a minha colaboração com a imprensa local, há uns trinta anos, estivesse a ser, ou já tivesse sido, devorada por roedores e sentia que havia algo mais a dizer relacionado com algumas coisas de que gostava muito em Ourém e que sentia ameaçadas ou nem por isso. Idealizava páginas sobre o assunto, mas esbarrava sempre na questão do servidor. O blog tem este obstáculo resolvido. Eu escrevo, publico quando quero e, pelo menos até à data, tudo é à borla com a ferramenta que utilizo. Posso ainda simular e comemorar datas históricas como o acompanhamento que fiz este ano do aproximar do 25 de Abril, dando a ilusão de uma reprodução da situação.
Terceiro e último aspecto da questão: e como vai ser no futuro? Confesso que não sei. O tema a nossa Ourém esgota-se, esgota-se porque há outras coisas que podem ser importantes, mas não são a minha Ourém e isto tem que corresponder ao projecto para que foi criado. Assim quando os temas acabarem, só há uma solução: conscientemente, terminar e não deixar andar por aqui uma lengalenga saudosista a arrastar-se. Mas, mesmo nessas circunstâncias, existirá aí uma monumental vantagem do blog: o escrito aqui ficará sempre acessível através do seu endereço e cada post será susceptível de comentários pelos amigos de Ourém ou por essa magnífica malta que me foi dado conhecer no Sábado do encontro dos blogs.
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