sexta-feira, junho 11, 2004

O mata-borrão


Em Ourém, havia uma escola para rapazes e outra para meninas, respectivamente a escola do Roque e a escola da Dona Iria. Mas no CFL tive o privilégio de encontrar turmas mistas o que permitia aos mais abonados (?) uma educação mais equilibrada do que a reservada aos outros.
Ali, a filha do poeta podia encontrar-se com o filho do plebeu e, não fosse a separação nos recreios, que podia muito bem ser contrariada pelo reencontro no pinhal, poder-se-ia dizer que viviamos num mundo onde não existia segregação. 
Com efeito, as traseiras do colégio eram reservadas aos rapazes que aproveitavam a parte de trás do ginásio para experimentar os primeiros cigarros. A parte da frente, a das flores, era para as meninas que podiam aí gozar a simpática companhia dos professores que, nos intervalos, passeavam na estrada para baixo e para cima.
De repente, o toque da campainha, desencadeado pelo Sr. Nunes fazia com que todos voltassem para as salas de aula e para os corredores.
Todos?
Lembro-me de uma certa história protagonizada pelo Augusto Almeida e pelo Vitor Castanheira que acabou mal. 
Por causa do mata-borrão, desdenhosamente apelidado de chupa o que causou manifestação de estranheza pelos ditos, foram postos na rua com a indicação de que só lhes seria permitida a entrada após o pedido de desculpas. Eles é que não estiveram pelos ajustes: como não lhes era permitida a entrada, ficaram pelo recreio, não fosse aquele o melhor sítio para se estar. E os dias foram passando. Imaginem a satisfação do Augusto e do Vítor enquanto nós penávamos nas aulas...
Um dia, estávamos todos descansados na aula, quando, repentinamente, a porta se abre com estrondo, entram o Augusto e o Vítor em voo e, atrás deles, o Dr. Armando, esbaforido, muito vermelho, praguejante, que lhes pregou uma monumental sova à nossa frente e os obrigou a pedir desculpa pelo vil acto que tinham praticado com o mata-borrão.
Não contente com isso, conduziu-os aos lugares onde os fez sentar, fez menção de se retirar e, quando nós nos levantámos para saudar a sua saída, espetou mais uma ou duas bofetadas no Oliveira que, nesse dia, teve o azar de estar no local errado.

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