A seita do cavalo branco
Não sei quantas vezes vi este saudoso filme no cine-teatro da vila, uma magnífica sala onde as plateias (de primeira e segunda), a geral, os camarotes e o balcão reflectiam a estratificação social que se vivia.
Mas, em momento de filme, corridas aquelas belas cortinas verdes que tapavam as portas de saída, tudo isso de esbatia. Detentor de pouco dinheiro, geralmente utilizava aquela plateia quase colada à geral e daí podia assistir à magnífica cavalgada para apanhar os bandidos no momento chave em que o espectador se tornava actor.
A galopada e o seu ruído entravam pela sala dentro. Toda a gente gritava de entusiasmo e saltava nas cadeiras. Sentia-se todo o edifício a tremer pelo arrebatamento desordenado que lhe era transmitido por quem se julgava a viver a monumental perseguição. Finalmente, os bandidos eram capturados.
No dia seguinte, menos tensos, com mais uma boa dose de paliativo para aceitarem a situação social em que viviam, todos comentavam o esplendor do espectáculo e todos pretendiam ter sido aquela figura que, no final, planeava passar o resto dos seus dias com a bela menina que amenizava tão brutais costumes.
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