Uma chegada imponente
Esplanada do Avenida
Uma daquelas magníficas tardes de Ourém. Algum Sol. Com nada para fazer, distintos oureenses apenas podiam exercitar a contemplação. Para a esquerda, para direita… para a esquerda, para a direita…
O Jó Alho dava espectáculo. Corria de um lado para o outro, saltava batendo os calcanhares, enquanto trauteava o "La plus belle pour aller dancer".
De súbito, o belo carro negro aparece vindo talvez dos lados do Olival. Não sei se era um Ford Perfect da década de sessenta, era qualquer coisa assim. Algo de importante.
O carro detém-se junto aos correios. Saem algumas pessoas. Reparo especialmente nela, uma catraia com os seus catorze anos, alta, engraçada, não era bonita, era apenas engraçada. Depois em alguém que parecia o seu pai. Um ar aristocrático, uma espécie de barão em fato negro completo, bigode forte e farfalhudo, um indivíduo alto e encorpado. Pouco falaram, cada um foi fazer o que tinha a fazer. Passado algum tempo, voltaram todos, meteram-se no carro e arrancaram, abandonando Ourém. Não falaram a ninguém. Lembro-me que isto aconteceu várias vezes. Quem seriam?
Voltei a encontrá-la em Leiria no Liceu. Afinal era simpática, não muito faladora, mas cumprimentava sempre, o que para mim é qualidade elevada. Eu ia para Económicas, ela para Direito ou Germânicas ou Filosofia, por isso nunca mais a vi.
Mas nunca consegui esquecer o modo como chegavam a Ourém.
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