Esta descrença numa avaliação baseada no mérito é, aliás, reforçada pela consciência relativa à crise subjacente às relações laborais na actual sociedade capitalista.
Já não faz sentido falar em realização no trabalho, o sistema encarregou-se de tirar as ilusões da cabeça das pessoas.
Veja-se, por exemplo, o caso dos professores no nosso país, o calvário anual a que estão condenados, sem colocação certa, sistematicamente a recomeçarem vida noutra localidade, quando têm a sorte de ser colocados e cada vez mais sujeitos a agressões como retrata o Público.
O mesmo jornal que, hoje, no suplemento de EConomia, deixa uma nota sobre o livro "Bonjour Paresse" cujo autor é bem claro no que se trata de explicar o natural desamor à camisola:
O "desamor à camisola" notado nos empregados ... é uma tendência de fundo no mundo ocidental, onde um número crescente de empregados se distancia do mundo da empresa. Numa sondagem internacional de 2003, mas feita dentro da empresa, a "Chronopost" (empresa francesa de correio rápido) que tem escritórios no mundo inteiro, só 20 por cento dos empregados com menos de 35 anos declararam "implicar-se muito ou essencialmente" na sua vida profissional. E em todas as classes etárias e todos os escalões de responsabilidade, sete pessoas em cada dez disseram que a sua relação com o trabalho "tem uma barreira - a da vida privada".
Esta mudança de mentalidade teria começado há uns dez anos, quando a maior das empresas no mundo ocidental começaram lançar planos de despedimento, segundo o psiquiatra Patrick Légeron, dirigente do gabinete de recrutamento Stimulus: "Nos anos 1970 e 1980, pediu-se às pessoas que trabalhassem e que gostassem do trabalho delas. Mas depois veio o tempo dos despedimentos de massa, que sacrificaram até os empregados mais zelosos. A geração seguinte, que foi apanhada nos lares destroçados por estas situações, é a que menos apego tem ao mundo da empresa".
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