quarta-feira, novembro 03, 2004


A casa do largo de Castela



Reconhecem esta obra prima?
Pois esta casinha ainda existe ali bem no início da Rua de Castela e continua a dominar com o seu porte a rua que nos conduz à avenida. Ali se travaram renhidos combates de futebol, pião e berlinde. Há quem sustente que, bem rente ao chão, a 20 centímetros do lado esquerdo da porta principal existiu um buraco que terá ocultado dezenas de bolas de futebol que eram engolidas perante os remates inadvertidos dos jovens jogadores. E que, no seu sótão, existirá possivelmente um saco contendo restos da banda desenhada da década de cinquenta e sessenta consubstanciada em Camaradas, Pajens, Moscas, talvez Mundos de Aventuras, ali deixados inadvertidamente por uma família que a habitou.
Consta que esta casa tinha características notáveis para a leitura e contemplação de banda desenhada. Reparem agora naquela pequena torre do lado esquerdo, quando vista bem de frente, que lhe dá uma solidez singular e única em todo o distrito…
A verdade é que me constou que esta casa também está condenada à destruição por causa do traçado de uma rua, por causa da relação com outras arquitecturas que nasceram tortas. Pode acontecer que assim seja, dar-me-ão um grande desgosto. Mas garanto que se tivesse posses para tanto, adquiriria essa casa, restaurá-la-ia e instalaria lá uma mostra de banda desenhada, resistindo ao seu abate até ao último suspiro.
E acreditem no profeta, a sentença está dada: quem participar na sua destruição, quer seja responsável, executante ou mero colaborador, é condenado à sua reconstrução, pedra por pedra, em local digno da visita de distintos oureenses.

1 comentário:

João Caldeira Heitor disse...

Sem lá ter jogado à bola, ao berlinde, ou à "apanhada", também guardo esta casa como uma das já "poucas" recordações de infância que compõem o nosso ser.
Mais do que uma recordação "ainda viva" esta casa acaba por pertencer-nos, a todos nós, Ourienses, que nela assumem o legado e património da memória colectiva.
A memória colectiva, o património histórico, "o passado", não podem ser "derrubados" por uma qualquer "buldozer", despacho administrativo ou judicial, decisão camarária...
Se há que deitar abaixo são duas coisas.
Uma física. Os prédios que naquelas ruas, contíguas e paralelas, deixaram construir. Qual progresso de uma sociedade moderna? Antes a "tacanhez" de autoridades e gentes locais...
A segunda. Derrubar, vencer, "tirar" da autarquia, aqueles que ainda "lá moram" e permitiram que esta "aldeia" (a de Castela, como a dos Álamos), ficassem descaracterizadas.
Mas há uma coisa que podemos fazer nascer.
Um movimento cívico de defesa do património histórico, cultural, social, que ainda resta no nosso concelho.
Um movimento que "grite" pelas pedras das casas que urgem ser recuperadas. Um movimento que saiba assumir o legados dos "nossos". Um movimento que defenda a nossa identidade cultural... antes que seja tarde...

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