segunda-feira, maio 16, 2005

Comparações (12)

A página da Câmara Municipal da Chamusca é, em termos de quantidade de informação procurada, das mais pobres. Tem, no entanto o mérito de nos oferecer um conjunto de peças importante para o conhecimento da cultura do seu povo.
Vejam, por exemplo, esta descrição da

PROCISSÃO DE S. MARCOS E NOSSA SENHORA DA PIEDADE


A procissão Posted by Hello

Duas terras, um rio. Arripiado e Tancos, o Tejo corre a juntá-los. Virados um para o outro, há tanto tempo assim perto, olhos nos olhos, a vida dum lado e doutro do rio, é comum o modo de estar que o Tejo traçou a ambos.

Sempre o sítio foi de passagem, desde a mais remota era, porque aqui o rio é estreito, se comparado com, o que se espraia a jusante, e é fundo todo o ano, nem que seque noutros lados. Sempre os homens aqui passaram, para a conquista, para o comércio, para o trabalho, para o Passeio.

Sempre aqui existiram barcas para ajudar a passagem e ainda resta uma, herdeira de tantas travessias, ir a Tancos e voltar, um vaivém que nunca acaba.

Ponte é que nunca houve, vá lá saber-se porquê, sendo o sítio de passagem. A não ser pontes de barcas, essas sim já se fizeram e não foi há muito tempo.

Há-de haver quarenta anos ainda se viu uma ponte dessas, erguida por algum tempo, por onde passavam homens e também Nossa Senhora.

Era trabalho de soldados, ponteneiros de especialidade, que aqui tinham instrução e consistia ela em pôr a ponte no Tejo, do Arripiado a Tancos. Durante um mês ou dois, sempre em tempo de Verão, escusavam de andar as barcas, era pela ponte a passagem. E nessa altura aproveitava-se o ensejo para levar ao Arripiado a Senhora da Piedade, quando Tancos estava em festa. Do outro lado do rio, onde agora está o cais, num largo que é de S. Marcos, como diz a toponímia, havia uma capela onde o santo tinha altar e à qual dava o seu nome. Era sítio por onde o Tejo entrava, sempre que havia cheia, e acabou por ser a capela demolida e substituida pela igreja que agora se ergue lá mais no alto da aldeia.

Nos tempos da procissão, ia a Senhora da Piedade à capela de S. Marcos, dava a volta à povoação e voltava a Tancos pela ponte. Era um momento especial da vida das duas terras, quando a Senhora selava esta amiga vizinhança.

Acabaram os ponteneiros e as pontes que eles faziam. Deixou, por isso, de se fazer a procissão. Correram os anos, mas ainda há quem se recorde, nas gerações mais antigas, de ver com os próprios olhos o que mostram as fotografias.

E então surgiu a idéia, que já foi realizada no último Verão que passou, de repôr a procissão, levando de barco a Senhora, de Tancos ao outro lado do Tejo. E foi bonito de ver, e cheio de significado, a gente de um lado e de outro satisfeita com o reencontro da Senhora da Piedade e de S. Marcos vizinho, há tantos anos à espera que os homens os juntassem, aproximando-se mais uma terra de outra terra, usando o rio que as une.

Houve festa nesses dias e foi festa singular, uma só nas duas margens, não sendo o Tejo barreira, mas palco para festejar.

E há-de haver muitas mais, porque assim querem as terras, assim desejam os homens. E já se pensa em levar S. Marcos à outra margem, retribuindo a visita e transportando para Tancos, como Tancos fez no Verão, a amizade do Arripiado, o abraço do vizinho, a alegria de ter um amigo na frente do nosso olhar

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