terça-feira, dezembro 20, 2005

O presépio
Íamos pelos campos para, em sítios mais húmidos, descobrirmos o musgo que usaríamos na nossa representação. Nada era longe do centro de Ourém, mas era um ou dois passos que nos faziam sentir a maravilhosa envolvência de que a nossa terra desfruta.
Em casa, sobre uma caixa de madeira que se forrava com papel de jornal, depositávamos o musgo e algumas pedras, estas para simular a gruta e alguma montanha.
Povoávamos com figuras: ovelhas, poços, moinhos, pontes, a estrela, a vaquinha, o burrinho, o menino, a mãe e o pai. Juntávamos os reis magos a cavalo e tudo aquilo adorávamos até alguns dias depois de Janeiro...
Lembro-me que me fascinava especialmente com o presépio que se fazia na igreja de Ourém, especialmente pela sua dimensão.
O nascimento de alguém que desejava uma vida melhor para todos nós era assim comemorado por todos às vezes sem grande conhecimento do seu significado. Partilhar, abandonar as coisas materiais foram mensagens que aquele menino nos trouxe e que os seguidores, às vezes profundos devotos, se terão frequentemente esquecido, substituindo-as por agressões, violentações da consciência do próximo só por ser ligeiramente diferente.
É curioso como algumas das doutrinas que nos procuram tornar em seres melhores, mais solidários, mais humanistas, se podem transformar pelas mãos dos seus portadores e serem algo de terrível para os que não as seguem como é preconizado por aqueles que as interpretam naquele momento...

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