A verdade é que nunca tive jeito para desenho, mas recordo que as aulas não eram de todo desagradáveis. As cores, os instrumentos, o cheirinho dos materiais dava ao tempo ocupado nas mesmas um ar lúdico e relaxante.
Apesar dos dissabores, eu achava um piadão ao compasso e ao tira-linhas pelo menos na fase de esboço. E as magníficas retas que conseguia desenhar com o auxílio de uma régua estimulavam a autoconfiança. Quando era para passar a tinta é que borrava a pintura toda. As pobres circunferências que desenhava nunca acabavam no ponto em que começavam, não sei por que motivo havia sempre um desvio e o que aparecia era uma espécie de caracol.
Também gostava muito de colorir com guaches e as cores mais simpáticas eram o vermelho e o amarelo que utilizava abundantemente em livrecos para colorir. Mas mesmo as cores que usava eram geralmente tremendo borrão. Enfim, total falta de jeito.
Um dia, surgiu algo de novo, uma surpresa agradável. A Dra. Nazaré apareceu com uma garrafa e um banquinho. Pôs o banquinho em cima da secretária e aproveitou para colocar a garrafa sobre o mesmo, ficando assim à vista de todos nós embora em perspetivas diferentes.
- Vamos fazer o primeiro desenho à vista. Da posição em que estão, olhem na direção da garrafa e tentem passar a sua imagem para o papel. Reparem que há zonas mais e menos sombreadas. Experimentem sombrear de acordo com que veem.
E eu passei quase uma hora a sombrear, sombrear, sombrear. Como estava lindo o meu desenho e eu estava quase a dá-lo por acabado após alguma ajuda da professora.
Mas eis que um elemento novo veio perturbar a aula que tão bem estava a correr. Era o Sr. Nunes.
- A menina Borda d’Água é chamada ao Sr. Diretor.
A Lena tremeu como varas verdes. É que tinham passado poucos dias sobre o famoso assalto ao CFL em que uma loira de meias negras quase tinha enfeitiçado o simpático contínuo. Será que alguém desconfiava de alguma coisa em relação à Lena? A verdade é que ela nunca mais tinha usado as suas fantásticas meias, mas desde pequenino nos andavam a dizer que «todas as maldades que fizéssemos cá na terra, seriam pagas cá na terra» e ela pensou que era o dia em que iria pagar tudo…
O certo é que ficou aterrorizada e, quando passou junto ao banquinho, com um movimento involuntário, derrubou-o. A garrafinha partiu-se em mil bocados, espalhando-se completamente pelo chão.
E assim ficou estragada a minha aula de desenho. Não consegui concluir o gargalo da garrafa e a nota acabou por não premiar o meu esforço e apego. Tudo por causa de uma colega que um dia se disfarçou de loira com meias negras e ficou aterrorizada por ser chamada ao diretor…
Apesar dos dissabores, eu achava um piadão ao compasso e ao tira-linhas pelo menos na fase de esboço. E as magníficas retas que conseguia desenhar com o auxílio de uma régua estimulavam a autoconfiança. Quando era para passar a tinta é que borrava a pintura toda. As pobres circunferências que desenhava nunca acabavam no ponto em que começavam, não sei por que motivo havia sempre um desvio e o que aparecia era uma espécie de caracol.
Também gostava muito de colorir com guaches e as cores mais simpáticas eram o vermelho e o amarelo que utilizava abundantemente em livrecos para colorir. Mas mesmo as cores que usava eram geralmente tremendo borrão. Enfim, total falta de jeito.
Um dia, surgiu algo de novo, uma surpresa agradável. A Dra. Nazaré apareceu com uma garrafa e um banquinho. Pôs o banquinho em cima da secretária e aproveitou para colocar a garrafa sobre o mesmo, ficando assim à vista de todos nós embora em perspetivas diferentes.
- Vamos fazer o primeiro desenho à vista. Da posição em que estão, olhem na direção da garrafa e tentem passar a sua imagem para o papel. Reparem que há zonas mais e menos sombreadas. Experimentem sombrear de acordo com que veem.
E eu passei quase uma hora a sombrear, sombrear, sombrear. Como estava lindo o meu desenho e eu estava quase a dá-lo por acabado após alguma ajuda da professora.
Mas eis que um elemento novo veio perturbar a aula que tão bem estava a correr. Era o Sr. Nunes.
- A menina Borda d’Água é chamada ao Sr. Diretor.
A Lena tremeu como varas verdes. É que tinham passado poucos dias sobre o famoso assalto ao CFL em que uma loira de meias negras quase tinha enfeitiçado o simpático contínuo. Será que alguém desconfiava de alguma coisa em relação à Lena? A verdade é que ela nunca mais tinha usado as suas fantásticas meias, mas desde pequenino nos andavam a dizer que «todas as maldades que fizéssemos cá na terra, seriam pagas cá na terra» e ela pensou que era o dia em que iria pagar tudo…
O certo é que ficou aterrorizada e, quando passou junto ao banquinho, com um movimento involuntário, derrubou-o. A garrafinha partiu-se em mil bocados, espalhando-se completamente pelo chão.
E assim ficou estragada a minha aula de desenho. Não consegui concluir o gargalo da garrafa e a nota acabou por não premiar o meu esforço e apego. Tudo por causa de uma colega que um dia se disfarçou de loira com meias negras e ficou aterrorizada por ser chamada ao diretor…
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