... há 70 anos a servir o comércio de Ourém.
Manifesta formidável lucidez e não se deixa levar pelos argumentos alheios. Tem estórias e estórias. Lembrou-se do meu nome quando me identifiquei.
Chegou a Ourém aos 12 anos, oriundo do seminário de Cartuxa, e foi trabalhar para a loja do sr. Oliveira, junto à do sr. Pina. “Uma excelente pessoa” – diz ele.
Mal soube da minha qualidade de economista, perguntou-me de imediato se sabia como estes profissionais enganavam o povo. E esclareceu-me: “Há doze casas para treze pessoas, vou-te dizer como eles fazem”. Desenhou 12 quadrados que preencheu com números:
2 - 3 - 4 - 5 - 6 - 7
8 - 9 - 10 - 11 - 12 - _
“Sabes? Para a primeira vão 2. Depois vai o terceiro, o quarto, etc. Resta uma casa vazia. Vai para lá o que estava a mais na primeira...”.
É notável esta sapiência e, ao mesmo tempo, a ingenuidade. Na perspectiva do sr. Manuel, as 12 casas iam, apesar de tudo, para 12 pessoas que necessitavam delas.
Já não tinha mais tempo. Tentei ir-me embora. Ele percebeu.
"Quando cá voltares, já cá não estou".
"Você vai durar mais dez ou vinte anos".
Ele riu-se...
Sem comentários:
Enviar um comentário