Cinzas de mim
Isto hoje está para o macabro, mas há que deixar seguir a voz interior. Estás cada vez mais louco, dirão os meus amigos. Pode ser, mas mesmo que seja verdade há que gozar o melhor possível esse estado de graça.
Não quero ir para debaixo da terra, tenho receio de acordar vivo no interior do caixão ou de ser devorado pelos bichos, prefiro ser engolido pelo fogo. Pretendendo-se algum destino para as cinzas, estabeleço o seguinte: serão divididas em seis partes não forçosamente iguais e guardadas em outros tantas caixinhas de plástico. A primeira deverá ser derramada a partir do janela superior da casa do Largo de Castela, de onde se avista a avenida, por sobre o largo. Se alguém de direito se opuser, o derrame será a partir do meio do largo. A segunda será espalhada a partir da janela da casa de banho da minha actual residência no concelho, com vista para o Castelo, sobre o respectivo quintal. A terceira será cuidadosamente depositada e aberta sobre a campa dos meus pais em Fátima. A quarta terá destino semelhante no cemitério de Peras Ruivas sobre a campa dos tios. A quinta destina-se ao cemitério de Ourém onde as cinza deverão ser espalhadas o mais perto possível de distintos oureenses já desaparecidos. Finalmente, a sexta, esperará pacientemente por igual quantidade de cinzas da minha querida Li e, em conjunto, serão espalhadas sobre a laranjeira, o pinheiro, a figueira e a ameixoeira do meu quintal. Responsabilizo como executantes de tão piedoso acto os meus dois filhos, Ana e Pedro e, como intérpretes da minha vontade, todos os que, em algum momento, me lerem.
É assim, está decidido, todo aquele que contrariar a vontade aqui expressa será perseguido eternamente pela consciência deste post.
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