Manhãs de sábado no Central
Há pouco, todo o Central fervilhava de emoção e indignação perante a acção autárquica que reduziu a praça em frente ao mesmo a um alinhavado de pedras salteado por alguns bancos mal acabados.
Parecia um antro cheio de mini-comícios oposicionistas.
O Quim Manel, com quem me encontrei para recordar uma velha história de discos emprestados, era dos mais revoltados.
- Sabes, Luís? Ourém tinha três coisas. A praça dos automóveis com o jardim que aquela foto documenta, o Castelo onde eu suspeito que, em breve, vão surgir tentativas de delapidação de património e o infortunado jardim frente à Câmara. Nem sabes como me sinto revoltado.
E ali estivémos quase meia-hora a pôr em dia conversa para trinta anos de ausência.
Cá fora, duas senhoras de geração mais avançada comentavam também a péssima paisagem que se lhes oferecia. O Torcato não perdoou e lançou também as suas críticas.
Quando eu saí, lá comentámos aquele deserto. Ele criticou especialmente o imobilismo.
- Fui há dias a uma assembleia municipal, estávamos lá sete.
Depois os nossos olhos detiveram-se naquela lixeira frente à biblioteca a que chamam ecoponto. Ali, mesmo no centro da zona histórica.
Recordei o Quim Manel.
- Sabes? Esta malta que tomou conta de Ourém e estoirou com ela odiava os nossos símbolos, porque, perante eles, noutros tempos, parecia que, vivendo na vila, tínhamos todos os problemas resolvidos.
A manhã avançava rapidamente.
De repente, aparece o Sérgio lembrando-nos os prestigiados escultor, fotógrafo e poeta que vão estar mais logo na Som da Tinta.
Ali se vão encontrar comunas, não comunas e anti-comunas. Nesta estranha associação de uma livraria com o estigma que todos conhecem com um brilhante escritor que apoia a política da coligação no poder.
Talvez seja uma boa ocasião para se sentir que aquele local, um exemplo de seriedade e apreço para com a cultura, não obriga a qualquer definição ideológica de quem o frequenta nem faz mal a ninguém. Por isso, a palavra de ordem para distintos oureenses , mais uma vez, é: "Todos à Som da Tinta".
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