quarta-feira, dezembro 01, 2004

Calculismo de Presidente?
Ferro não lhe agradava. Estava demasiado perto do BE, lembrava excessivamente o revolucionarismo do MES.
A coligação não estava queimada, apenas tinha sofrido o desgaste da governação em tempo de crise com a consequente derrota nas europeias.
A austeridade de Manuela era aprovada pelo insuspeito Constâncio como a única política viável.
Permitiu-lhes que formassem governo, apesar de impor algumas condições. Deixou-os governar.
Entretanto, o PS fez chegar à direcção uma figura mais do seu agrado. Durante três meses não se deu por este partido.
Potenciais aliados de Ferro voltaram à solidão, um deles fez novo congresso e redefiniu o seu posicionamento.
O governo da coligação, esse, foi de disparate em disparate. Não me consigo lembrar de alguma coisa positiva que tenha feito. Aquela de quem esperava alguma coisa, Graça de seu nome, quedou-se em mais esquecimento da situação dos docentes universitários.
Soaram gritos de aviso. Na comunicação, no Banco de Portugal, de anteriores ministros que deviam apoiar a coligação.
O Presidente entendeu que tinha chegado o momento e, legitimamente, resolveu dissolver a Assembleia e convocar eleições.
Tudo bem. A haver instabilidade será durante mais dois três meses, não durante mais de um ano.
Os partidos podem rever os seus programas e apresentar propostas ao povo.
Obviamente que gostaria que existisse uma boa proposta da esquerda e que ganhasse, que o povo a apoiasse. Algo contra a exploração capitalista, contra a corrupção, contra o parasitarismo e que tivesse bem presente as liberdades, a solidariedade, a diminuição progressiva das desigualdades, Algo que não gerasse mais pobreza sob a aparência de estar a distribuir melhor, algo que as organizações que se reveem nos valores da esquerda pudessem apoiar, mantendo a sua caracterização de base e não abdicando por isso do seu espírito crítico.
Será que o Presidente pensou tudo isto? Será que em Julho já antevia o que iria fazer no final do ano e preferiu enfrentar algum desencanto dos portugueses para não o acusarem de não ter deixado governar quem tinha legitimidade?
As eleições aí estão, esperemos que os programas sejam dignos dos princípios em que os partidos se apoiam Uma garantia temos: a da liberdade para criticar aquilo de que não gostarmos e dessa não queremos abdicar. É o nosso activo mais valioso.

1 comentário:

Anónimo disse...

Bom, não me parece que Sampaio estivesse à espera da saída de Ferro Rodrigues, embora não deixe de ser verdade que o próprio PS andava por águas um pouco pantanosas e ainda não devidamente esclarecidas. Esperemos que o sejam no futuro. Considero a atitude de Sampaio correcta, à que devolver ao povo a sua soberania. Mas ao analisar as alternativas actuais ao governo PSD/PP, estou um pouco céptico em relação a Sócrates, uma espécie de nacional-porreirismo, Considerava mais firme e sustentada uma candidatura de Manuel Alegre, por exemplo, homem de estrutura vertical, à dias falavamos dos desvios do ps do jogo de cintura.

Sócrates é uma espécie disso mesmo, embora eleito por maioria no congresso, isso de nada significa na realidade, pois esses resultados podem não reflectir genuinamente a posição política dos militantes base do partido. Mas sim resultado, das habituais jogadas que acontecem em muitos nucleos, concelhias e federações do partido, o chamado contar espingardas...

É um dos problemas que efecta todos os partidos da democracia portuguesa, os seus líderes não são eleitos genuinamente pelos militantes. Toda a gente sabe isso, embora não se admita.Ou se negue, que ainda é pior..

Por isso, resta a participação directa dos cidadãos, mas, como infelizmente o circulo político português está monopolizado pelos partidos, qualquer cidadão por mais visível que seja, senão se integrar num partido não chega a lado nenhum..Penso que esta é a questão fundamental que deveria ser resolvida, mas, afinal o que são 30 anos de democracia?

Abraço

Bin tex

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