O Blasfémias publicou um texto em que combate os que sustentam que existe uma relação entre o desenvolvimento e a educação, procurando um novo modelo que não se baseie nos baixos salários. Confundindo o que está em causa com o grau de participação do Estado na Economia afirma que "mesmo que o número de licenciados duplicasse de repente, Portugal não deixaria de ter um modelo de desenvolvimento baseado em salários baixos".
O Castelo fez uma aplicação daquele artigo a Ourém e considera que é idiota procurar instalar um polo universitário na nossa terra.
Estou de acordo que não é por causa de se ter um maior grau de educação que o nível de salários é mais elevado, por isso não apoio teses que afirmam a necessidade de o Estado gastar mais nesta área para tudo melhorar. Mas discordo completamente dos dois artigos.
Em relação ao artigo do Blasfémias, há que dizer que quem critica um modelo de desenvolvimento baseado em baixos salários o faz porque entende que esse modelo de desenvolvimento está completamente esgotado para o nosso país. Já não é possível, uma vez que existe trabalho muito mais qualificado e que recebe salários muito mais baixos em países que, inclusivamente, já se integram na União Europeia. E se quisermos ir um pouco mais longe, basta recordarmos a concorrência que pode ser feita aos produtos desse desenvolvimento pelos países asiáticos em alguns dos quais as condições de trabalho são autêntica escravatura, garantindo uma elevada taxa de mais-valia ao capital. Portanto, Portugal tem de procurar um modelo de desenvolvimento diferente onde a formação contínua, o conhecimento e a informação têm um papel relevante gerando inovação e um valor acrescentado elevado. Por isso faz sentido investir mais na educação e no conhecimento, sem se estar com isso a dizer às pessoas que vão ter salários mais elevados e que tudo o mais fica na mesma, designadamente, os produtos objecto do seu trabalho.
Por outro lado, quando se defende um polo universitário em Ourém, isso nada tem a ver com o que atrás se discutiu, mas sim com os benefícios que podem decorrer de uma melhor interacção entre a escola e a empresa. Portanto, não se está a dizer que as pessoas que vão ser formadas daí a uns anos vão ganhar mais, mas sim que a presença desse tipo de ensino pode ser um catalizador do desenvolvimento no momento. Aveiro, o Minho e Caldas da Rainha ilustram saltos qualitativos que estão relacionados com esta feliz associação a qual nem implica que o contribuinte gaste mais. Trata-se apenas de o ensino superior estar mais descentralizado, mais perto da região e da vida real a qual pode ser palco de investigação e de aplicação de actividades de ponta. Pode ser frequentado pelas pessoas que o fariam se estivesse centralizado ou por outras que nunca lhe teriam acesso dadas as barreiras da distância.
Finalmente, como decorre da discussão que actualmente se faz em torno da processo de Bolonha, mesmo que haja um aumento dos que reforçam a sua formação, isto não significa que o contribuinte gaste mais, pois não é transparente que seja o Estado a financiá-la. Até me parece que este agente económico, reconhecendo, apesar de tudo, que o cidadão do futuro periodicamente volta à universidade, se prepara para reduzir a sua participação em mais de 20% pela passagem de currículos dos cursos de quatro para três anos e de cinco para quatro anos.
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