quarta-feira, janeiro 26, 2005

Jerónimo versus Portas

Lembramo-nos de vários: Cochise, Sitting Bull, Jerónimo. Todos leais, todos grandes guerreiros que se bateram em condições de profunda desigualdade e perderam. Mas a quem a história acabou por dar razão.

O Jerónimo de que falamos também é leal, também é um grande lutador e penso que não venceu o debate com Portas, portador de outra bagagem sobre os assuntos tratados e que teve a vantagem de ser interrogado sobre os assuntos em que interviera no governo.

Os jornalistas também deram uma ajuda talvez inconsciente, mas objectiva. Lembro-me claramente de uma situação em que Portas desancou forte e feio na CDU e a questão que eles puseram, na sequência, a Jerónimo foi: “e que pensa dos 150000 prometidos pelo PS?”. Esta questão foi desonesta quer para a CDU quer para o PS.

Mas, se Jerónimo não conseguiu mostrar a diferença das propostas da CDU em relação às outras forças, isto é, não conseguiu mostrar como vai fazer crescer a produção nacional, como vai dominar o aparelho produtivo, como a Europa é um obstáculo a esses objectivos, o debate conseguiu trazer ao de cima a inutilidade de um partido como o CDS para os portugueses dominarem os seus destinos.

Portas mostrou-nos que o CDS é uma espécie de partido da consolação dos pobrezinhos que nunca deixarão de o ser. “Pobres haverá sempre, é esse o nosso triste destino, mas nós estamos atentos e temos um abono de família para os consolar e de que os ricos não precisam. Aceitai a vossa situação”. A resposta de Jerónimo que lembrou que qualquer pessoa tem direito ao abono de família desde que tenha descontado é extremamente importante e poderia inclusivamente ter sido explorada para mostrar o totalitarismo de Bagão ao se apropriar do fundo de pensões dos trabalhadores da CGD e para desmontar todo o discurso que hoje faz pensar que as pensões são uma espécie de esmola que se dá a pessoas que durante anos andaram a fazer descontos para tal efeito, como se isso não tivesse qualquer analogia com um depósito bancário.

Idêntica conclusão vem do destino que Portas prevê para a Bombardier. ”Eu criei 190 postos de trabalho para produzir Chaimites”. Mas qual é a utilidade das Chaimites? Vai brincar às guerras? Esta produção equivale assim a uma espécie de redistribuição, vão uns tostões para os operários a título de salários, uns milhares para estudos e interesses de empresas, mas o efeito reprodutivo será muito baixo pois as Chaimites não produzem.

Assim, contrariamente ao PSD que, apesar de tudo é um partido que preconiza o desenvolvimento e tem uma mensagem de eficiência e do qual se pode esperar crescimento de riqueza apesar da apropriação privada, o CDS é um partido da manutenção em que surge a correcção dos efeitos da exploração pela distribuição de pequenas migalhas do bolo capitalista.

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