domingo, março 06, 2005

Ilusão cíclica ou mentira sistemática?

Esta manhã, quando cheguei ao blog, tinha lá este comentário (sempre esperado, sempre desejado) do Sérgio

Bom dia, Luís
Na ressaca de uma noitada com o Helder e amigos - em que fizeste falta! - apanho com a tua interessante caracterização ministerial e com este a nota sobre impostos. Regresso a um 'outro mundo'. E lembro, do meu velho Quelhas, o que retive sobre impostos directos e indirectos, sua diferença na vertente social, Indirectos quase-cegos e naturalmente injustos, directos susceptíveis de concretizarem alguma justiça social. Em Portugal, a questão maior nos impostos parece-me estar no seu pagamento: quem paga e quem não paga. E porquê?
Desculpa lá, Luís, mas receio bem que o teu benefício da dúvida, a tua esperança, seja bem mais querida e cíclica ilusão. Legítima mas muito perigosa em política!

E dou por mim a matutar: terei feito mal em depositar esperanças no PS, em dar o benefício da dúvida (até Setembro, lembrem-se) a este governo?

Será que o ministro fez mal em aludir a uma possível subida de impostos? Eu até o compreendo: isto está tão mau que, se o homem não quiser provocar muitas feridas sociais, tem que buscar mais receita. Ele vai procurar mais receita para não utilizar as receitas que a direita tem engatilhadas: despedir funcionários públicos e diminuir e atrasar reformas de pensionistas. Então até parece que é legítimo.

Mas, parece que foi ontem: recordo um encontro de Sócrates com os empresários, um encontro em que ele próprio se atreveu a brincar:"Meus senhores, os impostos não vão aumentar". Ao longo da campanha isto foi sendo reafirmado e não foram precisas 24 horas sobre o anúncio do novo governo para aquela promessa ser desmentida.

Com Durão foi a mesma coisa. Este até prometeu um choque fiscal que se traduzia em baixar impostos e depois foi o que se viu.

Assim, é com muito desgosto que vejo os políticos a recorrerem sistematicamente à mentira. Não sou eu que crio e vivo em ilusões, eles é que usam sempre promessas que não querem cumprir com o objectivo de cativar o eleitorado.

Choca-me e entristece-me muito que isto aconteça na área política que eu considero mais recomendável. Aliás, gostava que os socialistas oureenses se pronunciassem sobre isto. Concordam com o que está a acontecer? Ou devo preparar-me para que amanhã Sócrates venha já desmentir o seu colaborador?

Há dias, em conversa com um amigo mais causticado com a actividade dos políticos, ele dizia-me: "sabes, Luís, estou convencido que o problema não está nas doutrinas, nos programas. O problema está nas pessoas que as vão pôr em prática". E continuava com uma enormidade destas: a social democracia e a democracia cristã são tão ou mais capazes de trazer a felicidade às pessoas e a justiça do que o socialismo. Basta que os seus praticantes lhes respeitem os princípios".

É verdade, teria sido preferível que Sócrates dissesse: "meus amigos, eu não sei o que vou encontrar. Tentarei não aumentar os impostos, mas se tiver de ser...". A política tem que ser a actividade mais transparente do homem. Um partido só merece o nosso voto depois de nos dizer tudo o que poderemos esperar da sua actuação.

Uma nota adicional sobre a questão dos directos e dos indirectos. O Sérgio tem razão quando me lembra a mensagem do Quelhas quanto à concretização de alguma justiça social. O problema que estes teóricos do Quelhas e das outras escolas esquecem é que isso implica um sistema de informação fidedigno sobre os rendimentos. Que nunca se implementa e que atira os impostos directos sempre para cima dos mesmos. Assim, em determinado contexto, não me parece errado que o padrão de consumo indicie o tipo de contribuinte presente e tentar fazer justiça a partir do mesmo, no seu acto: isentar leite, arroz, carne e outros consumos de primeira necessidade e taxar a 40 ou 50% bebidas, altas cilindradas e consumos de luxo não prejudicará os explorados e oprimidos a não ser que eles andem a esconder a sua verdadeira situação.

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