sábado, abril 16, 2005

Porque não? Um desafio ao SantaCita, ao Fred e ao Sérgio...

O camarada Byn-Tex do Mega-Fauna perguntou e eu respondo...

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro querias ser?

Um que rebentasse na tromba do Montag quando ele tentasse pegar-lhe fogo.
Mas olhando para trás, já passei por alguns Fahrenheits. O primeiro tinha para aí doze ou treze anitos. O meu pai dava-me 10 escudos por semana que eu aplicava religiosamente no Mundo de Aventuras, no Condor Popular e guardava o restante para mensalmente comprar daqueles livrinhos da colecção Búfalo ou Bisonte que saiam uma vez por mês ao preço de 8$00. Ao fim de um dois anos já tinha uma bela colecção toda escondidinha e arrumada num pequeno móvel que tinha uma cortina à frente. Um dia alguém do controle viu aquilo.
-O quê? A ler estas porcarias em vez de estudar?! Vais desfazer-te disto tudo.
Safei alguns, mas perdi grande parte da colecção.
Mais tarde, passei por algo de semelhante para arranjar daquela literatura subversiva debaixo do regime do Caetano. Em casa, muitas vezes partilhada com outros estudantes, eram guardados escondidos, parecendo de estudo, de vez em quando algum caia e lá apareciam as barbas do Marx à luz do dia. Era um gosto ter esses livrinhos nesse ambiente, mas gerava uma certa castração

Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por uma personagem de ficção?

Penso que sim. O Cisco Kid... não havia cow-boy mais rápido, mais certeiro e que conseguisse despertar mais cedo o amor naquelas belíssimas meninas: a Lucy, a Sylvie, a Flor Vermelha...
Mas também me imaginei muitas vezes a fazer um trajecto como o Marx (tão longe no tempo, tão diferente da habitual pessoa, surge-me como ficção)... a ler dia a dia as obras dos grandes filósofos, dos economistas e dos políticos, sem ligar à comida e só a pensar em como superar esta malvada sociedade. Tinha uns 20 anos e um amigo, um dia, vira-se para mim: é pá, com a tua idade o Marx já tinha escrito a "Crítica da Filosofia do Direito de Hegel", "Os manuscritos económico-filosóficos" e tu ainda não fizeste nada. Enfim, um percurso de vida impressionante.

Qual o último livro que compraste?

Isto está mau. O sacana do Durão esteve dois anos sem trazer aumentos, os preços têm subido, comprar um livro obriga-me a contar os trocos. Adquiri o Disseste o meu nome? na apresentação que houve na Som da Tinta e, como achei piada ao que foi oferecido, adquiri o 2º livro da História Universal do Público. Não sei se vou continuar a comprar estes. Não os leio, ficam a ocupar lugar na estante, mobilizam sistematicamente o orçamento que poderia ser para outros e aparentemente não servem para nada. Talvez continue com um ou outro volume salteado.

Qual o último livro que leste?

Não me lembro. Só leio bocados de livros. Apanhei este vício por causa dos livros técnicos em que vou à procura de passagens orientado por assuntos. Li alguma coisa em férias ("O Belo Adormecido" da Lídia Jorge que me pareceu conversa de tia da linha), mas em geral tenho pouca paciência e a vista já não ajuda nada...

Que livro estás a ler?

Bocadinhos deste e daquele sem orientação...

Que livros (cinco) levarias para uma ilha deserta?

Tal como o Byn, levava "A insustentável leveza do ser" do Kundera. Levava também uma edição pirata do Cumplicidades. "A Rosa do Adro" do Camilo: já o disse, adoro aquela entrada. Mas há textos do Engels que são um prazer de ler, por exemplo o "Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã" e "a origem da família, etc. etc". Ele tem um estilo que transforma a leitura em algo de saboroso. O Marx era muito mais complexo, talvez mais dialéctico, tornava-se difícil. Engels lê-se por prazer. Experimentem...

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?

Tenho que dizer isto. A pessoa que mais me impressionou nesta passagem pela blogosfera foi a Maria do Cumplicidades. Não sei o que se passa com ela que já não escreve nada desde 26 de Janeiro. Temo que algo de grave. Ela seria a minha primeira escolhida, a sua sinceridade, a sua doçura eram algo de inigualável.
A partir daí, quem me resta? Efectivamente, acho que não consigo apresentar mais do que três pessoas. O Bispo de Porto, responsável pelo Santa Cita, pela ajuda e camaradagem que sempre trouxe ao Ourem, o Fred, um lutador do Castelo, pela luta contra o obscurantismo na nossa terra que leva com aquela tenacidade toda e, naturalmente, o Sérgio (o Leão de Ourém), do blog Som da Tinta, pela coerência, amizade, integridade. É a eles a quem passo o testemunho...

E os vencedores são:

Somos todos!

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